Curitiba (PR) – Foram 44 dias internada numa cama de hospital, sendo 42 deles na UTI. Sem abraços, sem beijos, sem toques. O único contato foi com pessoas totalmente desconhecidas, com máscaras resistentes, dezenas de luvas e todos os tipos de proteção. Por mais que tudo fosse proibido, existia ali um misto de sentimentos abertos: amor, carinho, gratidão. Glória Maria de Camargo Moro, de 70 anos, lutou e venceu o coronavírus ao lado de um esquadrão de branco forjado nos corredores do Hospital Geral de Curitiba (HGeC), subordinado à 5ª Região Militar do Exército Brasileiro. Neste Dia das Mães, 10 de maio de 2020, ela está em casa, ao lado dos filhos, marcada para sempre como uma das pacientes sobreviventes com mais tempo de internação por COVID-19 no Brasil.

“Uma alegria que vem da alma, porque não foi fácil. Acho que fui uma escolhida de Deus e também graças às médicas e enfermeiras, que cuidaram de mim com carinho, atenção e dedicação”, diz dona Glória, aliviada ao olhar para alguns integrantes da equipe médica.

Agora, eles já não são mais tão desconhecidos assim.

“Uma das médicas é a cara da minha filha Renata, que mora nos Estados Unidos”, completa a mãe mais feliz do mundo neste domingo.

Foi justamente lá, em solo norte-americano, em New Jersey, que dona Glória contraiu esse vírus implacável. Após visitar sua filha e retornar ao Brasil no dia 17 de março, ela não tinha a mínima noção do que viria pela frente.

Quase dez dias depois, um de seus maiores dramas em 69 anos (até então) de vida começava. Era uma manhã diferente em 26 de março.

“Eu achei que estava tudo muito quieto e resolvi entrar no quarto dela. Ela estava na cama, em uma posição virada, que não era normal, e imóvel. Quando eu peguei o braço dela, ela me olhou e disse que estava mal, muito fraca. Naquele momento, liguei para o meu irmão. Ele veio rapidamente, pegamos ela no colo porque não conseguia nem andar direito, colocamos no carro e viemos para o hospital. Chegamos por volta das 7h30 e ela já foi atendida prontamente na enfermaria. Dali não saiu mais, já ficou internada”, conta o filho Maurício, designer e chefe de cozinha.

A partir de então, um exército, literalmente, passou a cuidar de dona Glória. Uma equipe multidisciplinar encarou um de seus maiores desafios em anos de medicina.

“Dona Glória foi nossa primeira paciente de COVID-19 grave aqui no hospital. Ela chegou num momento bem inicial da doença no Brasil, de uma maneira geral. Chegou na UTI com insuficiência respiratória, precisando de intubação orotraqueal e ventilação mecânica: um comprometimento pulmonar bem grave mesmo”, relembra a Capitão Arana, médica intensivista e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do HGeC.

Como a doença ainda era muito desconhecida, cada evolução era comemorada com sorrisos, choros e emoção à flor da pele entre os profissionais da saúde.

“Cada dificuldade, cada desafio que enfrentamos, nós nos unimos para vencer tudo isso com ela”, vibra, emocionada, a 1º Tenente Marcela, enfermeira da UTI.

Os dias passavam rapidamente e todos os envolvidos mal conseguiam respirar.

“Exigiu da nossa equipe bastante estudo, muita discussão entre nós; mostrou-nos a importância de um trabalho multidisciplinar que foi essencial para ela desde o primeiro dia de internação”, destaca a 1º Tenente Patrícia Harder, fisioterapeuta do HGeC.

Assim que acordou, dona Glória queria se libertar daquela cama, mas confiava em cada um dos rostos desfocados que via entre as máscaras diariamente.

“E nunca chegava a hora de sair. Me diziam mais um dia, mais dois, mais três dias. Então, eu já tinha jogado assim…o que vier vem bem”, recorda a então paciente.

Até que chegou a última sexta-feira, 8 de maio, data em que as Forças Armadas comemoraram o Dia da Vitória em alusão à atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra Mundial. Um dia sugestivo também aos Camargo Moro.

“Agradeço muito à equipe médica deste hospital militar pela alta da minha mãe, porque eles foram sempre muito solícitos, nunca nos esconderam nada, sempre foram bem claros com a situação. Todos os dias a gente ligava pontualmente e nunca tivemos que ficar esperando. Inclusive até antes do tempo nos deixaram fazer uma videochamada com ela, o que foi importantíssimo, tanto para a recuperação dela, quanto para o nosso emocional. Eles foram fantásticos!”, atesta o primogênito Maurício.

Dona Glória completou 70 anos dentro da UTI, no dia 22 de abril. Não teve beijo, abraço, nem olho no olho, mas, neste domingo iluminado, ela vai poder comemorar o Dia das Mães mais feliz da sua vida ao lado dos filhos, Mauricio Fernando, e, virtualmente, vendo e conversando com a caçula, Renata, por videochamada dos Estados Unidos. Uma Glória restabelecida, curada, lúcida e renascida.

Glória à vida! Glória aos profissionais da saúde!

Fonte: HGeC
Agência Verde-Oliva/Exército Brasileiro
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