Em junho de 2016 Emílio Odebrecht disse que seria preciso construir três novas celas – para ele, Lula e Dilma – caso seu filho continuasse preso, alguém atuou nos bastidores logo em seguida para colocar água na fervura.
Passados alguns dias, o próprio Emílio tratou de negar que tivesse feito tal declaração, mas quem conhece os escaninhos da política nacional sempre soube que muita lama ainda estava por surgir do envolvimento da Odebrecht no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.
O tempo passou e Marcelo Odebrecht continua preso em Curitiba, onde dever ficar atrás das grades pelo menos até o final deste ano. Isso porque Marcelo, após muito refletir, decidiu aderir à delação premiada, na companhia de 77 dirigentes e ex-executivos do grupo.
O potencial de destruição do acordo coletivo de colaboração da Odebrecht é tão grande, que há em Brasília dezenas de políticos que têm dormido muitíssimo mal desde que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF 83 pedidos de abertura de inquérito, além dos que serão alvo de declínio de competência.
Enquanto o relator da Operação Lava-Jato no Supremo, ministro Luiz Edson Fachin, não decide sobre os tais pedidos, Marcelo Odebrecht vai fazendo estrago a seu modo. Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marcelo afirmou, no início de deste mês, que a então presidente Dilma Rousseff, à época candidata à reeleição sabia da “dimensão” das doações feitas pelo grupo à sua campanha.
“A Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia que nós éramos quem doá… quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois para [o marqueteiro] João Santana. Isso ela sabia”, disse Marcelo Odebrecht em depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator no TSE do processo que trata da chapa Dilma-Temer.
Questionado pelo ministro do TSE sobre as doações à campanha petista, o empresário ratificou sua declaração afirmou: “O que Dilma sabia era que a gente fazia, tinha uma contribuição grande – a dimensão da nossa contribuição era grande, ela sabia disso – e ela sabia que a gente era responsável por muitos pagamentos para o João Santana. Ela nunca me disse que sabia que era caixa 2, mas é natural, é só fazer uma… ela sabia que toda aquela dimensão de pagamentos não estava na prestação do partido”.
“Eu não sei especificar o momento em que eu tive essa conversa com ela, mas isso sempre ficou evidente, é que ela sabia dos nossos pagamentos para o João Santana. Isso eu não tenho a menor dúvida”, completou.
Em nota, Dilma negou que em nenhum momento solicitou a Odebrecht recursos para sua campanha à reeleição ou até mesmo para o PT. “Dilma Rousseff jamais pediu recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais, ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores”, destaca um trecho da nota divulgada pela assessoria de imprensa da ex-presidente da República.
Dilma tem o direito de se defender, inclusive negando as acusações que lhe são feitas, mas é importante ressaltar que Marcelo Odebrecht não falou em solicitação de recursos. O empresário disse que Dilma sabia da “dimensão” dos pagamentos feitos pelo grupo ao marqueteiro João Santana, responsável pela campanha da petista. Essa declaração de Marcelo é devastadora, pois acaba com a tese de que Dilma jamais soube de algum ilícito envolvendo pagamento de propina e uso de caixa 2.
Mas Odebrecht não parou por aí. O empresário disse ao ministro Herman Benjamin que herdou do governo Lula uma conta corrente de pagamento de propinas, sendo foi obrigado a gerenciar a mesma com os ex-ministros Antonio Palocci Filho e Guido Mantega.
Decidido a não deixar pedra sobre pedra, Odebrecht afirmou que colaborou financeiramente para “comprar” partidos que integraram a coligação que reelegeu Dilma. Marcelo disse que, a pedido do petista Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma, “comprou” três partidos por R$ 7 milhões cada. Edinho Silva é o atual prefeito de Araraquara, no interior de São Paulo.