Uma parceria da USP com a iniciativa privada deverá resultar, em breve, em mais uma arma na luta contra a covid-19. Uma equipe multidisciplinar da universidade formada por pesquisadores da Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Medicina (FM) e da Faculdade de Odontologia (FO) está desenvolvendo um capacete que, adaptado ao respirador artificial, dispensa o uso do tubo endotraqueal em pacientes internados nas UTIs. O protótipo está em fase final de desenvolvimento e deverá estar concluído ainda neste mês de maio.
O protótipo do capacete está em sua terceira versão. “A cada protótipo vamos aperfeiçoando e melhorando as funções. Desta vez estamos trabalhando para reduzir a complacência no equipamento, que resulta da movimentação do capacete de acordo com a entrada e saída do ar. “Denominamos ‘complacência’ o espaço morto instrumental que acaba armazenando o CO2 que é retirado dos pulmões. Se isso ocorrer, parte desse CO2 acaba retornando ao órgão, o que é prejudicial ao paciente que utiliza o respirador. Por isso é importante utilizar materiais mais rígidos para que o volume do capacete varie pouco”, explica Gonzales.
O equipamento, batizado inicialmente como “Escafandro” − por parecer a vestimenta usada por mergulhadores −, é composto de uma cúpula redonda de acrílico, por uma membrana de látex que se ajusta ao pescoço do paciente, uma almofada inflável sobre os ombros, e filtros e válvulas de acesso. “O acrílico é um material translúcido que pode ser higienizado até mesmo com bactericidas”, descreve Gonzales.
O capacete possui dois tubos que são ligados ao respirador artificial que funcionam como entrada e saída de ar. O sistema precisa ser conectado a um respirador artificial que faça com que o ar que entra tenha concentração e pressão controlados para melhorar a oxigenação sanguínea. “Outra vantagem do equipamento é que ele impede a contaminação no ambiente de uma UTI, já que o ar é filtrado. Assim, possíveis partículas da covid-19 não serão dispersadas no ambiente hospitalar, e isso resultará em mais segurança aos que atuam diretamente com esses pacientes”, lembra o pesquisador. “Além disso, como a estrutura permite a higienização poderá ser reutilizada para outros pacientes depois de descontaminada, reduzindo custos e descartes”, explica Gonzales.
De acordo com Gonzales, os próximos passos do projeto consistem em otimizar ainda mais a complacência e avaliar o uso de outros materiais. “Estamos na etapa que podemos chamar de física e biomédica que deve ser concluída nesta semana para, assim que aprovado pela Comissão de Ética, passarmos aos testes clínicos”, diz Gonzales, lembrando que a produção, após o projeto definitivo, poderá ser rápida e em larga escala pois utiliza materiais e infraestrutura de fabricação disponíveis no mercado nacional.
Os pesquisadores preferem não estimar custos, mas segundo informações já veiculadas na imprensa por representantes das indústrias parceiras, o equipamento poderá custar menos de R$ 400.
Fonte: Jornal da USP