Brasil/BR – A produção agropecuária bate recordes no Brasil, com o crescimento de 15,1% em 2023, o maior desde 1995, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária. O escoamento da produção, no entanto, ainda é um problema para o país. O transporte centrado no modal rodoviário, com carência de ferrovias e hidrovias, e a dificuldade de acesso aos portos, especialmente na metade norte do país, dificultam o escoamento e as exportações.

A assessora da CNA foi uma das participantes de audiência pública feita pela Comissão de Agricultura (CRA) na quarta-feira (6) para discutir os desafios para o escoamento da safra brasileira nos próximos anos. O debate foi requerido pelo senador Jaime Bagattoli (PL-RO), vice-presidente da comissão.

— Se nada for feito nos próximos dez anos, o Brasil já entrará em colapso porque nós não temos condições. (…) É muito difícil para nós produtores, porque além de nós estarmos preocupados “da porteira para dentro”, temos que estar preocupados “da porteira para fora” — disse o senador.

Portos – Em 2013, o Congresso aprovou a medida provisória que deu origem à Lei dos Portos (Lei 12.815, de 2013). A principal mudança da lei foi a possibilidade de concorrência entre portos públicos e terminais privados. Dois anos depois, em 2015, começaram os leilões, que, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), somaram 48 até 2023.

A agência é responsável por regular, supervisionar e fiscalizar as atividades de prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da infraestrutura portuária e aquaviária no país.

Para o diretor da Antaq Alber Vasconcelos, não há gargalo logístico em relação ao número de portos no país. Ele afirmou que atualmente existem 162 instalações portuárias ao longo da costa brasileira.

Outro aperfeiçoamento feito pelo Congresso em 2023 foi a ampliação, até 2028, do prazo do Regime Tributário para Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura Portuária (Reporto), previsto na Lei 14.787, de 2023. O Reporto prevê incentivos fiscais para investimentos em portos, como compra de máquinas e equipamentos. Esse regime especial permite que os beneficiados comprem equipamentos com desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS e Cofins e Imposto de Importação (II).

Hidrovias – A dificuldade de escoamento de parte da produção do país também é resultado de problemas com as vias de acesso aos portos. Foi o que ocorreu neste verão, com a seca severa que assolou os principais rios da região amazônica. O problema climático interrompeu o tráfego nos rios e parte da carga teve que ser desviada para o Sul e o Sudeste, gerando insegurança para produtores e investidores.

A gerente técnica da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), Ana Paula Gadotti, afirma que é preciso investir em infraestrutura aquaviária, com levantamentos hidrográficos periódicos, gestão do tráfego, manutenção e sinalização náutica, além de implantação de estruturas de primeira resposta para incidentes ambientais, especialmente a Barra Norte do Rio Amazonas.

Rodovias – Os problemas das rodovias que deveriam garantir o acesso aos portos também contribuem para a dificuldade do escoamento da safra. Um exemplo do entrave é a BR 163, que corta o Brasil de Norte a Sul e é um dos principais corredores logísticos do Arco Norte, responsável pelo escoamento de mais de 20 milhões de toneladas por ano, segundo a ATP.

Ana Paula Gadotti explica que a concessionária Via Brasil, responsável pela rodovia na parte que liga Mato Grosso ao Pará, tem como obrigação, por contrato, executar os acessos até as regiões dos terminais portuários às margens do Rio Tapajós. A concessionária, no entanto, não apresentou um cronograma detalhado para a execução dos acessos a dois portos. Apenas o acesso ao terminal de Mirituba está em andamento pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), “houve uma melhora significativa nas rodovias brasileiras”. No Arco Norte, as principais ações foram a melhoria da malha rodoviária e a intensificação e conclusão de obras estruturantes.

Ferrovias – Para o senador Wellington Fagundes (PL-MT), grande parte da produção ainda se perde nas rodovias não só por ineficiência na manutenção, mas também pela quantidade de acidentes. O senador defendeu o desenvolvimento do modal ferroviário e destacou a construção da primeira ferrovia estadual, em Mato Grosso.

— É a primeira ferrovia por autorização estadual do Brasil, e tudo isso só foi possível porque nós aqui aprovamos o marco regulatório das ferrovias, do qual todos nós participamos. Essa ferrovia está avançando de Rondonópolis rumo a Cuiabá, e também com outro ramal chegando até Lucas do Rio Verde — comemorou.

O Marco Legal das Ferrovias, citado pelo senador, foi aprovado pelo Congresso em 2021, para permitir à União autorizar a exploração de serviços de transporte ferroviário pelo setor privado em vez de usar concessão ou permissão. Alguns trechos vetados pelo então presidente Jair Bolsonaro foram retomados pelo Congresso em 2023, após a derrubada dos vetos.

A senadora Margareth Buzetti (PSD-MT) afirmou que é preciso ter todos os modais funcionando para que o agronegócio tenha condições de trabalhar. Ela criticou a suspensão, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do projeto da Ferrogrão, ferrovia que ligará Sinop (MT) ao distrito de Miritituba (PA). A ferrovia é considerada uma importante via para escoar a produção agrícola do Centro-Oeste até os portos do Norte.

— Eu não quero que este país não dê certo, mas, às vezes, a gente fica até com dificuldade de acreditar quando vê esse tipo de coisa: o STF impedindo o estudo da Ferrogrão. Nós vamos ver outros entraves aí, mas temos que, com garra, com determinação, enfrentar — disse a senadora.

A decisão sobre a continuidade do projeto é esperada para o fim de março.

Fonte: Agência Senado

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